Ayahuasca é para um tipo específico de pessoas, aqueles que possuem uma busca por si mesmos, que procuram entender o seu lugar no mundo. Eu era esse tipo de buscador e quando um amigo me falou a primeira vez sobre aquela bebida, eu sabia que iria experimentar mais de uma vez. Eu nunca havia usado nenhum psicoativo antes, nem mesmo cannabis, no entanto aquele lance parecia algo muito meu, como um chamado mágico ecoando dentro do ser. Numa determinada noite ele me deu o chá dentro de seu apartamento (eu ainda descobriria a maravilha de consagrar a bebida na mata) e ainda que fosse num lugar fechado minha experiência número 1 foi significativa.
Dentro de cerca de 15 minutos senti a cabeça desferir um movimento circular com o pescoço girando em sentido horário. Era uma sensação boa e eu ri com meus botões, achando engraçado ver a cabeça girando involuntariamente. De repente, junto com esse giro, foi se formando um espiral colorido na escuridão dos meus olhos fechados. Esse espiral foi se expandindo, expandindo, até se tornar como um túnel luminoso e eu distraído com aquela imagem vívida, parecendo que estava num cinema 4 d, passeando pelo túnel, seguindo pra frente, até que de surpresa meu pai aparece de braços abertos, me abraça e diz algo como: me perdoe por tudo, eu era ignorante.
Aceitei o abraço sem saber porque. Foi uma confusão geral em minha mente. Nem tive tempo de sentir desconforto. Parecia uma iniciativa externa a mim. Era um abraço dele, um pedido dele. Mas aquele foi o primeiro passo para que eu perdoasse meu pai e mais tarde a mim mesmo.
Muitas vezes as pessoas saem de sessões de ayahuasca um tanto confusas, pois os processos são bastante simbólicos e difíceis de entender, mas para mim tudo sempre foi entendido de maneira muito clara, por mais simbólico que me aparecesse. Porém, aquela imagem me apareceu óbvia. A Força me levou de cara ao âmago da minha questão. Ayahuasca é assim sem floreios. Na minha primeira sessão, a primeira visão foi com aquele que constituiu toda a grande problemática da minha vida. Era um aviso. As coisas precisavam seguir por aquele caminho antes de qualquer coisa. Eu precisava resolver o problema com meu pai, pois todas as minha maluquices haviam se originado ali.
Seriam muitos anos de descobertas, iluminar a sombra, aprender a amar a mim para amar a todos, mas tinha de começar pelo pai conversando com todo o ódio que eu nutria por ele no fundo do ser. O trabalho começou, o trabalho de morrer para nascer novo só estava iniciando. Eu nem havia tido tempo de sentir a raiva, aquele abraço reverberou na minha mente como um desafio: o que fazer com aquilo? Ao longo dos anos eu saberia o que.